Um corpo para a memória: a construção das chitas na cultura visual (Rio de Janeiro, 1808–1850 c.)
DOI:
https://doi.org/10.22398/2525-2828.1029206-218Palavras-chave:
Memória iconográfica, Tecidos, Rio de Janeiro, século XIXResumo
Durante a primeira metade do século XIX, no Rio de Janeiro, os tecidos estampados, que já eram antigos conhecidos dos residentes das partes do Brasil, caíram no gosto de diferentes grupos sociais. Esse sucesso crescente informava uma constante requalificação dos têxteis. Ao passo que essas classificações se tornavam mais frequentes, pintores, gravadores e editores esforçavam-se para reproduzir, por meio de imagens, os padrões têxteis. A transferência da Família Real para o Brasil e a abertura dos portos às nações amigas fizeram com que conflitos, interesses e experiências em torno dos têxteis e da circulação dos impressos ganhassem nova velocidade. Partindo do contexto de ampliação (das qualidades e das variedades) de um produto nos mercados internacionais, este artigo problematiza os mecanismos que garantiram as “diferenciações” entre os tecidos, por meio de recursos iconográficos. Nosso caminho investigativo examina um manual de fabricação de chitas (1804), ao lado de gravuras de Henry de Chamberlain e Joaquim Guillobel. O argumento aqui defendido é que os arquétipos construídos em torno dos corpos negros foram fundamentais para corroborar os elementos presentes nas imagens e, paradoxalmente, representar o que não podia ser visualizado, como a urdidura e a trama. Por fim, destaco a permanência e o poder dessas construções iconográficas ao longo do século XIX.
Referências
ALMANAK ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro, 1858. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=313394x&pasta=ano%20184&hf=memoria.bn.gov.br&pagfis=12983. Acesso em: 5 jan. 2025.
ANDRADE, Rita Morais de; KARAJÁ, Tuinaki Koixaru; KARAJÁ, Waxiaki; CALAÇA, Indyanelle Marçal Garcia Di. Os vestires plurais dos povos originários: uma proposta intercultural e transdisciplinar. Dobras, n. 40, p. 8-16, jan./abr. 2024. https://doi.org/10.26563/dobras.i40.1812.
BECKERT, Sven. Empire of cotton: a global history. Nova York: Vintage Books, 2014.
BERG, Maxine (Org.). Mercados y manufacturas en Europa. Barcelona: Crítica, 1995.
BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998.
CATÁLOGO OLHAR VIAJANTE NA CASA FIAT DE CULTURA. Coleção Brasiliana/Fundação Estudar da Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2008. Disponível em: https://casafiatdecultura.com.br/wp-content/uploads/2021/06/catalogo_olhar_viajante.pdf. Acesso em: 6 dez. 2024.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: as artes do fazer. São Paulo: Vozes, 1994. v. 1.
CHAMBERLAIN, Henry. Largo da Glória. In: ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRA. São Paulo: Itaú Cultural. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obras/83804-largo-da-gloria. Acesso em: 20 maio 2025.
DEBRET, Jean Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1981.
DOSSE, François. A história. Bauru: Edusc, 2000.
SCHIAVINATTO, Iara Lis Franco; COSTA, Eduardo Augusto (Org.). Cultura visual e história. São Paulo: Alameda, 2016.
SKEEHAN, Danielle C. The fabric of empire: material and literary cultures of the global Atlantic, 1650-1850. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2020.
SPIX, Johann Baptist von; MARTIUS, Carl F. P. Viagem Pelo Brasil (1817–1820). São Paulo: Melhoramentos, 1938.
SYKAS, Philip A. Identifying printed textiles in dress 1740-1890. DATS Dress and Textile Specialists. V&A Museum, 2007. Disponível em: https://dressandtextilespecialists.org.uk/wp-content/uploads/2021/08/Identifying-Printed-Textiles.pdf. Acesso em: 21 jun. 2022.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Rosângela Leite

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Os direitos autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista.
Ressaltamos que a responsabilidade dos artigos é de exclusividade do(s) autor(es) e não reflete, necessariamente, a opinião dos Editores ou da ESPM.