O bebê mediado e midiatizado: a vida encenada dos pequenos Trumans
DOI:
https://doi.org/10.22398/2525-2828.7206282Palavras-chave:
consumo, Gravidez, Bebê, Midiatização, EstetizaçãoResumo
Este artigo representa uma parte das descobertas da pesquisa de doutorado acerca da relação entre gravidez e consumo. O que apresento aqui tem por objetivo discutir o imperativo da visi bilidade1 como condição de existência na contemporaneidade. Nesse contexto, as gestações im bricadas pelo consumo fazem com que os bebês nasçam mesmo antes de seus partos. Os bebês existem como imagens, mediados também por objetos e midiatizados em suas vidas intrauterinas. A jornada seriada e digitalizada da gravidez é, ao mesmo tempo, elemento de pedagogização de consumo para um modelo de gestação e também objeto de entretenimento. Qualquer seme lhança com o filme O show de Truman não nos parece mera coincidência. Tais descobertas foram possíveis por meio de metodologia que contou com pesquisa de inspiração etnográfica, em visitas aos quartos dos bebês em gestação; monitoramento de hashtags em redes sociais (Instagram e Facebook); e busca das mesmas palavras-chave em vídeos do YouTube. Para dar conta da interpre tação do fenômeno analisado, são mobilizados os seguintes conceitos e bases teóricas: mediação, midiatização, visibilidade e estetização.
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